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Recuperação orgânica: treino x descanso

Por Adriano Vretaros

Na atualidade, se acompanharmos a rotina de treino dos tenistas competitivos, poderemos notar alguns fatores interessantes, a saber: viagens constantes, treinos ininterruptos, uma gama de estresse psicológico, dores musculares, lesões ortopédicas, etc.

Apresentados estes fatos, surge uma questão: Quanto devo treinar? Ou, melhor: quanto devo descansar? Normalmente, estas questões não são simples de ser respondidas.

Na preparação física, um estímulo de treino fraco não produz resultados no organismo do atleta. Em contraste, um estímulo muito forte pode causar efeitos negativos. O ideal seria uma carga de treino que permitisse um equilíbrio entre o volume e a intensidade solicitados respeitando-se a individualidade do atleta.

Então, como ficaria a concepção de treinar, treinar e treinar? Na verdade, se queremos atingir objetivos de rendimento elevado, devemos treinar bastante. Porém, o descanso também é uma ferramenta importante do treino. O termo descansar tem sido utilizado erroneamente como sinônimo de "não fazer nada". Descansar, na teoria moderna do treinamento desportivo, significa absorver adequadamente as cargas do treino no organismo e permitir ao mesmo que se recupere de forma a suportar futuros estímulos, iguais ou de maiores dimensões, sem causar efeitos de ordem negativa ao corpo.

Por exemplo, em Roma, na era dos gladiadores, existia um médico chamado Galeno, que cuidava das condições de saúde, higiene e treinos dos guerreiros que se defrontavam nas arenas. Após os combates, este médico indicava recursos recuperativos para o sistema orgânico destes atletas, tais como: a massagem, saúna, música, alimentação, horas de sono, entre outros fatores.

Assim sendo, com a intenção de sanar as dúvidas acerca da questão de quantificar a relação treino versus descanso, tentaremos discutir e, ao mesmo tempo, expor algumas estratégias que poderiam maximizar uma efetiva recuperação orgânica para os tenistas engajados em programas de treinamento competitivo, bem como aqueles que jogam por recreação e desconhecem os benefícios de um descanso apropriado.

Sono

O sono é um elemento restaurador da energia solicitada ao longo do dia. O sono propicia uma inibição protetora ao córtex cerebral, causando uma regeneração das células cerebrais aos produtos residuais do metabolismo. É através do sono que o organismo se regenera do estresse físico e intelectual.

Então, bastaria apenas dormir? Não. A quantidade e a qualidade do sono são fatores determinantes. É importante dormir diariamente cerca de 6 a 8 horas. Somando-se a isto, um sono saudável possui como características uma profundidade e um adormecimento rápido.

Outro cuidado essencial diz respeito ao ritmo circadiano. Ou seja, o horário em que o seu corpo acostuma-se a dormir. Como os tenistas viajam com freqüência, devemos tomar cuidado principalmente com as viagens intercontinentais. Nestas viagens, os fusos horários tendem a confundir o ritmo circadiano do sono. Seria interessante chegar ao destino com, no mínimo, uma semana de antecedência para adaptação gradual do organismo.

Treinos

Uma sessão de treino é considerada a menor unidade na estrutura global do processo de treinamento. A sessão pode ser de preparação física ou técnica. A somatória de várias sessões é que permitirá a aquisição de objetivos distintos.

O que preocupa são as sessões seguidas, ou seja, o tenista realiza uma sessão técnica e em seguida vai para o treino físico, ou vice-versa. Neste caso, deveria haver um período de espaçamento entre as sessões de aprimoramento técnico e a preparação física. Posso citar como exemplo, o futebol. No futebol, em alguns clubes, a sessão de treino físico ocorre no período da manhã e, à tarde, as sessões de treino técnico e tático. Este distanciamento entre as sessões permitiria uma regeneração orgânica das cargas à qual o atleta foi submetido. Vale ressaltar que deve existir um diálogo entre o técnico e o preparador físico para que não ocorram no mesmo dia duas sessões de treino com solicitações elevadas.

Chamo a atenção para os treinos realizados nas competições. Estive no Banana Bowl de Ribeirão no ano de 2000 acompanhando alguns atletas. Fiquei preocupado com o que vi: ao conversar com alguns tenistas, constatei que, no mesmo dia em que chegaram de viagem, já foram para a quadra treinar. Isso está correto? Acredito que não. Ao chegar de uma viagem, por menos cansativa que seja, existe a necessidade do corpo de descansar. Não será devido a você deixar de treinar neste dia que seu desempenho irá cair na competição. Muito pelo contrário: descansando, você estará ajudando seu organismo a se preparar para o torneio.

Massagem

Após um dia de jogos em um grande torneio, uma sessão de massagem cai bem. Ela permite uma restauração na capacidade de trabalho. Entre os benefícios que a massagem proporciona podemos citar: melhoria no tônus muscular para os músculos mais solicitados, melhoria na capacidade funcional do sistema neuromuscular e restauração do desgaste energético do dia.

Porém, nem sempre nos hotéis em que somos hospedados existe um serviço de massagista à nossa disposição. O interessante é contatar o fisioterapeuta do torneio numa eventual urgência de massagem. Ou então, que na sua equipe técnica exista um profissional com curso de massagem para poder aplicá-la.

Hidroterapia

A água possui propriedades físicas que aliviam o estresse mecânico sobre as articulações que sustentam o peso corporal, permitindo com isso, realizar movimentos em forças gravitacionais reduzidas.

No futebol, após as sessões desgastantes de treino físico ou técnico, os jogadores participam de sessões de hidroginástica ou hidroterapia. O objetivo é aliviar a dor e possíveis espasmos musculares. Também, o uso do meio líquido como elemento recuperativo de atletas permite a manutenção ou o aumento da amplitude de movimento das articulações, melhoria na circulação, estimula os proprioceptores cutâneos, solicitados no equilíbrio, coordenação e postura.

Música

A música possui dois efeitos distintos: elemento estimulante ou elemento relaxante. A seleção criteriosa do tipo de música é que permitirá solicitar um dos efeitos.

Como elemento estimulante, os treinadores russos costumam treinar seus fisiculturistas com músicas de sonoridade eletrizante para que o estresse mental e físico do treino seja minimizado e os atletas suportem maiores cargas.

No aspecto de recuperação orgânica, uma sessão de relaxamento induzido em que se empregue a música pode causar inúmeros efeitos benéficos.

Me lembro de ter lido em um livro sobre musicoterapia, que uma paciente terminal estava com seus dias contados. O médico ao conversar com sua neta descobriu que a paciente ficava muito feliz em casa quando ouvia o som (música) do caminhão de gás, pois, assim poderia ir ao portão de casa e ver o movimento na rua. Foi através deste relato que o médico providenciou a gravação de uma música idêntica àquela utilizada pelo caminhão de gás e colocou no quarto da paciente. Em alguns dias de uso desta estratégia, os sinais clínicos da paciente começaram a se estabilizar.

Soube também, que os jogadores de basquetebol da NBA realizam sessões de relaxamento induzido através de música orientados por um psicólogo esportivo.

Sauna

O uso da sauna com objetivo recuperativo é um pouco controverso de acordo com alguns especialistas.

Entre aqueles que apoiam seu uso, os benefícios do recurso da metodologia térmica com fins regenerativos podem ser assim dispostos: redução da hipertonia muscular e efeito restaurativo da circulação periférica.

Os cientistas russos apregoam que o uso da sauna de 1 a 3 vezes por semana serve como um elemento para prevenção de lesões no aparelho locomotor dos atletas.

Nutrição

A nutrição adequada serve para ampliar os estoques de energia dos atletas para o treinamento, como também, para restauração e prevenção de doenças ou deficiências orgânicas.

Somente comer não adianta. É preciso selecionar adequadamente os alimentos que serão ingeridos. A desnutrição pode ser originária de dois contextos: desnutrição sócio-econômica ou desnutrição sócio-cultural. Na desnutrição sócio-econômica, o baixo poder aquisitivo não permite a seleção e variação apropriada dos alimentos. Em contraste, a desnutrição sócio-cultural (mais freqüente em atletas mal orientados), faz com que se ingira alimentos desnecessários e que possuem baixo ou nenhum tipo de nutriente essencial.

Para cada faixa etária, a nutrição apresenta uma faceta diferente. Quanto menor a idade, maior será a importância, pois, a criança encontra-se em fase de crescimento e a presença de um maior número e variações de nutrientes permitirão um desenvolvimento corporal saudável.

Em atletas, as diretrizes alimentares estão relacionadas com o gasto energético, variação de nutrientes, forma de confecção dos alimentos, uso de suplementos alimentares, freqüência de alimentação, estratégias nutricionais para o desempenho, etc.

Conversando com o seu preparador físico e com auxílio de um nutricionista pode-se criar um cardápio adequado às necessidades individuais do tenista.

Considerações finais

As estratégias recuperativas aqui propostas visam auxiliar os treinadores quanto a selecionar uma melhor estratégia para maximizar a recuperação orgânica dos seus atletas após treinos ou competições desgastantes.

A preparadora física Kerrie Brooks, que treina as irmãs Williams, costuma empregar como plano de recuperação após os treinos físicos, corridas em ritmo de jogging e/ou bicicleta estacionária com intensidade leve.

O preparador físico Gil Reyes que treina Agassi, não segue um tipo de recurso recuperativo específico. Costuma empregar, conforme o caso, uma variedade de sistemas regenerativos conforme as cargas de treinamento.

Enfim, cabe aos treinadores analisarem os recursos existentes e, com base no conhecimento que possuem dos seus tenistas, aplicarem o sistema recuperativo mais apropriado para cada situação.

 

Referências Bibliográficas

  • Birukov, A.A. et alii. Some methodical aspects of using warm-up massage for wrestlers. Soviet Sports Review, v.24, n.02, p.79-82; 1989.

  • Brooks, K. Want to get ready to play some serious tennis? Step into the gym with Venus and Serena Williams. Tennis Magazine, may; 2000.

  • Campion, M.R. Hidroterapia: princípios e prática. Manole, São Paulo; 2000.

  • Goletz, V.J. & Osadchy, V.P. The complex use of restorative means in different stages of the annual training cycle. Soviet Sports Review, v.23, n.04, p.170-172; 1988.

  • Kodzhaspirov, Y.G. et alii. The application of functional music in the training sessions of weightlifters. Soviet Sports Review, v.23, n.01, p.39-42; 1988.

  • Urazaeva, Z.V. et alii. Using a sauna for prevention and rehabilitation of muscle injury in the support-motor system in athletes. Soviet Sports Review, v.24, n.03, p.140-141; 1989.

  • Van Way, C.W. Segredos em Nutrição. ArtMed, Porto Alegre; 2000.

  • Weineck, J. Manual de treinamento esportivo. 2ª edição, Manole, São Paulo; 1989.


    Adriano Vretaros
    é professor de Educação Física com pós-graduação em Bases Fisiológicas do Treinamento Desportivo pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP.

 

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